quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Arroto

Sim, compreendo perfeitamente o desgosto que é captar a essência da vida – um vazio... Uma falta de sentido – tudo tão minuciosamente estruturado e tão grandiosamente colocado ao longo de milhões de anos... Para quê?! Penso que a magnificência da mente humana, com toda a sua complexidade – todos os sentimentos, toda a riqueza de idéias – é totalmente incompatível com o vazio das coisas (isso porque dizem que não usamos nem 10% de nossa capacidade intelectual). O homem e sua máquina de pensamentos... Tão incompatível! Um carro que usamos para atravessar uma estreita rua: esse é nosso cérebro, que usamos para atravessar a vida.
Ainda assim, discordo de quem reclama... Após subir bem ao alto e observá-la de longe, me atrevo a dizer: Graças a deus (ops), bem... Que sorte a nossa essa falta de sentido na vida, como nos cai bem essa sua eterna estupidez! Imagine quão desgraçados seríamos se fosse o contrário...
Um almoço com alguém de respeito, inteligente; – cheio de sentido – se procura mastigar de boca fechada, comer moderadamente, usar corretamente os talheres, limpar o canto da boca com guardanapo, etc., etc., etc.! Bom, agora, na mesma hipótese, com alguém cuja estupidez e idiotice já previamente averiguadas, inspirando-lhe total displicência... Ah, mas que beleza! Vai-se ao pit dog mais barato lambuzar a boca com maionese de segunda, derrubar todo o milho que insiste em se jogar do sanduíche gorduroso direto em sua já não tão limpa calça, arrotar e não se importar em comer até sentir aquela massa alimentícia subir o esôfago!
Ta bem, ta bem... Divaguei; empolguei-me – o exemplo seria bom se não fosse tão abstrato, ou melhor, tão sujeito à errôneas interpretações (ou talvez esteja menosprezando o leitor).
Talvez um exemplo mais claro: os melhores relacionamentos ocorrem quando e com quem menos se espera...
Está certo que pode parecer ridículo da minha parte falar sobre “melhores relacionamentos”... Relacionamentos... Humanos... Justo eu...! Mas há quase um consenso geral nessa idéia (outro motivo forte para desacreditá-la). Mas, enfim, imagine um sentido na vida... Trilhar um caminho... Não!!! A beleza da vida reside na sua estupidez, no emaranhado de caminhos tortos sem sentido – Não espere nada da vida! – não procure nela um sentido:
Contente-se com a estupidez da vida que arrota na sua cara!

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