sábado, 29 de março de 2008

Crônicas do 260308 (dia da paciência)

I

Enquanto crescia e me tornava homem, disseram-me que fazia inverno,
um dia, displicente, saí de casa nú e me deliciei com o calor do verão.
Hoje, me saltam aos olhos tantas pessoas esmorecendo no conforto da lã
e não consigo entender como fazem para ignorar o sol que lhes beija as faces.

II

Ouvi, por alguém, lendas de um passado remoto onde apaixonados se amavam.
Desorientado, perguntei: "mas como... assim como o sedento bebe e o esfomeado come?!"
"Simples assim", respondeu-me o velho - tempos estranhos aqueles...

III

Contou-me, um amigo, que na noite anterior fora apresentado à uma linda senhora, "Sra. Vida" disse-me ele. "Troquei um aperto de mãos caloroso, por horas conversamos banalidades... Tornamo-nos grandes amigos. Vou lhe apresentá-la!". Antes que ele pudesse cumprir o combinado e apenas algum tempo depois daquele encontro, estava eu a vagar por aí, absorto em pensamentos, e reconheci a tal senhora ao acaso na rua. Apressei-me em me apresentar. Mal terminara de dizer meu nome, puxei a coroa pelo braço, a levei para minha casa e trepamos a noite inteira... odeio formalidades!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Sobre a felicidade

Sim, sou um maldito filho da mãe muito do pretensioso para escrever algo com esse título, eu sei. Bom, não existem verdades absolutas, apenas pontos de vista, e esse, no dado momento, é o meu (embora sujeito a mudanças repentinas e imprevistas de opinião).
A questão, é que li hoje uma frase que dizia mais ou menos o seguinte: "Vocês não serão felizes depois que passarem no vestibular. Não serão felizes depois de conseguirem um emprego. Não serão felizes depois que se casarem. Não serão felizes depois de nada.".
Ahhhh!! Eu... Sempre perdido entre a dialética... Jamais conseguiria chegar numa afirmação tão economicamente certeira... Quem disse essas palavras não é um mero charlatão das idéias como eu, e sim, um verdadeiro filósofo.
Para quem realmente entendeu a frase citada, nem compensa ler o que escreverei. Mas para aqueles que perceberam nessa citação o mínimo de pessimismo – sim, ela é perigosa – penso que não a entenderam... Tentarei resumir um pouco minha opinião...
De fato, não se acha a felicidade num aumento de salário, não se acha a felicidade no final de semana, nas férias de verão, não se acha felicidade depois de se mudar para o bucólico e florido campo francês, entre vinícolas e montanhas enevoadas... O que se acha, talvez, é a oportunidade de vivê-la em mais momentos.
Sumariamente, o problema está na escolha do verbo. Gostam de usar o irregular e anômalo verbo ser (talvez por encararem a própria felicidade como irregular e anômala). Não. A felicidade está em outro plano de existência, em outra dimensão por assim dizer, onde cabe apenas outro verbo: estar.
Já repararam que a memória não é feita de dias, semanas, meses e etc., mas, sim, de momentos?! Há uma enorme diferença... Você não se lembra daquele exato dia das férias julianas de 1997, e sim, de lapsos de momentos daquele dia, semana, mês... Momentos que, juntados aos pedaços, constituem o mural de lembranças que se encontra fundo em sua mente, e, até mesmo (por que não?!) que constituem você próprio. A felicidade segue o mesmo padrão da memória...
As pessoas tendem a programar e colocar a felicidade encaixada numa grade de horário; reservam um ou dois dias da semana, um ou dois meses do ano para a felicidade... Tudo errado!
Não se é feliz num sábado à noite, numa manhã de um feriado ensolarado, não. Não se é feliz depois do vestibular, casamento, (...). Se é feliz no sorriso de um ilustre desconhecido, se é feliz no vislumbre da graciosidade de um beija-flor, se é feliz nos breves minuto em que se vê o feixe de raios de sol conferir às copas das árvores um quê de celestial, se é feliz ao ler um livro, escutar uma música, se é feliz na gargalhada ébria de um alguém amado...
Não se é feliz - ou se está ou não se está feliz. E o fato de que na maior parte do tempo não se está sentindo necessariamente feliz, ou indiferente, não quer dizer nada. Se se consegue ponderar uma semana de trabalho inútil e alienante com momentos de desilusão humana, vazio existencial e um belo par de sorrisos sinceros, então isso já é algo de valor.
E não, não estou sentado no conforto conformado de alguém que não espera muito da vida, pelo contrário, até me definiria como alguém que nunca se satisfaz, nunca. A angústia também muitas vezes chega a consumir um pouco de minha vitalidade – o espírito humano é voraz (e só eu sei o tanto que o meu é...), como já escrevi antes (no texto Arroto), a mente humana e sua complexidade de idéias, anseios, pensamentos e etc., é totalmente incompatível com a estupidez e “ordinariedade” da vida. Há de se procurar um ponto de equilíbrio – não que eu já tenha achado o meu, até porque existe um ditado inglês que diz as sábias palavras “the chase is better than the catch”...
A felicidade é algo muito pessoal, um reflexo de anos de experiências pessoais acumuladas durante a vida, de cada característica própria. Em outras palavras, deculpem-me o termo, a felicidade é igual a bunda, cada um tem a sua – e de vez em quando ela pode feder.
Antes de julgá-la escassa, rara, ou até mesmo duvidar de sua existência, deve-se ao menos tentar entender a peculiar natureza do que significa “felicidade”, sua relatividade... Sim, você não será feliz depois que passar no vestibular, não será feliz depois de conseguir um emprego, não será feliz depois que se casar, não será feliz depois de nada... Porque seria impossível ser feliz - se menospreza uma das coisas sobre a qual tudo que há gira: a relatividade. Obs.: Já pensou o tanto que é ridícula e impossível a existência daquilo que os cristãos chamam de “paraíso”?! Isso segue o mesmo raciocínio...
Felicidade... Não a confunda com aquilo que tentam lhe vender diariamente num anúncio de jornal, não a confunda com um comercial da colgate...

Gelo Seco

Dizem que sou frio, muito frio... de fato não me lembro de ter dito as palavras "eu te amo" à alguém - talvez um sem graça "obrigado, eu também..." por pura conveniência.
Mas os sentimentos estão aqui - violentamente fortes e complexos, intraduzíveis - em tal intensidade que não me atrevo a submetê-los às limitações da linguagem falada ou escrita, e a corporal, infelizmente, também me escapa...
A verdade é que um "eu te amo" reduziria tanto e de maneira tão cruel meus sentimentos que não ouso pronunciar tais palavras.
Então a maior prova de amor que já dei à alguém foi o silêncio...
O problema é que ninguém jamais a escutou.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Balé Cósmico

Me causa extâse
deitado sob a
noite estrelada:
O gosto pelo infinito

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Inspiração

Ah, inspiração, minha garota peralta...
Tão querida e estimada – tão traquinas!
Tu, que me vens a toda insólita hora
E me deixas o papel em branco quando
Uma caneta tenho em mãos.

Na correria matinal pelo labor do dia
No banheiro ébrio de uma noite perdida,
Tu vens, insolente, dar-me um tapa na cara
Só para sumir e me tirar o dia com insensatos
[rabiscos.

Incitas apaixonadamente minha mente a pensar
Que és brilhante, e eu, um verdadeiro poeta,
Só para divagar – palavra após palavra...
Deixando-me a sós, com meus insípidos versos.

Fugaz! Cruelmente foges quando te procuro
Para, minutos depois, tirar-me o sono tão caro
E o sono me devolves antes mesmo da mão trabalhar.
Uma verdadeira ninfa náiade em conturbadas corredeiras
Ah, se te pego! Farei de ti minha Salmácis e jamais
Desperdiçarei uma linha, nem ao menos uma gota de tinta
[sequer.

Thomas 01/2008

Arroto

Sim, compreendo perfeitamente o desgosto que é captar a essência da vida – um vazio... Uma falta de sentido – tudo tão minuciosamente estruturado e tão grandiosamente colocado ao longo de milhões de anos... Para quê?! Penso que a magnificência da mente humana, com toda a sua complexidade – todos os sentimentos, toda a riqueza de idéias – é totalmente incompatível com o vazio das coisas (isso porque dizem que não usamos nem 10% de nossa capacidade intelectual). O homem e sua máquina de pensamentos... Tão incompatível! Um carro que usamos para atravessar uma estreita rua: esse é nosso cérebro, que usamos para atravessar a vida.
Ainda assim, discordo de quem reclama... Após subir bem ao alto e observá-la de longe, me atrevo a dizer: Graças a deus (ops), bem... Que sorte a nossa essa falta de sentido na vida, como nos cai bem essa sua eterna estupidez! Imagine quão desgraçados seríamos se fosse o contrário...
Um almoço com alguém de respeito, inteligente; – cheio de sentido – se procura mastigar de boca fechada, comer moderadamente, usar corretamente os talheres, limpar o canto da boca com guardanapo, etc., etc., etc.! Bom, agora, na mesma hipótese, com alguém cuja estupidez e idiotice já previamente averiguadas, inspirando-lhe total displicência... Ah, mas que beleza! Vai-se ao pit dog mais barato lambuzar a boca com maionese de segunda, derrubar todo o milho que insiste em se jogar do sanduíche gorduroso direto em sua já não tão limpa calça, arrotar e não se importar em comer até sentir aquela massa alimentícia subir o esôfago!
Ta bem, ta bem... Divaguei; empolguei-me – o exemplo seria bom se não fosse tão abstrato, ou melhor, tão sujeito à errôneas interpretações (ou talvez esteja menosprezando o leitor).
Talvez um exemplo mais claro: os melhores relacionamentos ocorrem quando e com quem menos se espera...
Está certo que pode parecer ridículo da minha parte falar sobre “melhores relacionamentos”... Relacionamentos... Humanos... Justo eu...! Mas há quase um consenso geral nessa idéia (outro motivo forte para desacreditá-la). Mas, enfim, imagine um sentido na vida... Trilhar um caminho... Não!!! A beleza da vida reside na sua estupidez, no emaranhado de caminhos tortos sem sentido – Não espere nada da vida! – não procure nela um sentido:
Contente-se com a estupidez da vida que arrota na sua cara!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Tempos Modernos

Pessoas ocupadas fazendo nada,
Pessoas sozinhas, se socializando.

Vende-se felicidade; embalada, prática,
pronta para consumo! (Disponível nas melhores lojas)

Individualidade - promoção do dia na sua t.v.,
ligue agora e leve grátis o "kit atitude"!

Cultura e conteúdo... não perca seu tempo -
o mercado está em baixa e caindo
(além de extremamente de modê)

Thomas, 01/2008